Como prometido, vai ai o primeiro artigo sobre cinema escrito por um admirador do blog.
João é Doutor em Filosofia e professor na Unioest em Toledo/PR cinema pra ele é uma paixão e não poderia ser diferente, já que somos irmãos, é coisa que tá no sangue mesmo.
Recomendo o Artigo, pois ele sabe do riscado.
João com seu chapéu de chef "O Poderoso Chefão!"
Para todo mundo que gosta de ir ao cinema nos fins de
semana ou curtir um DVD com a namorada ou com os amigos, Hollywood é quase como
um sinônimo de cinema americano e, por que não, de cinema. Não é de hoje que as
coisas são assim, afinal este distrito de Los Angeles desde as primeiras
décadas do século XX, tornou-se a Meca do cinema com o aparecimento dos grandes
estúdios e a criação da indústria do cinema. Existe mesmo um modelo “made in
Hollywood” que é copiado em muitos lugares muitas vezes com resultados
duvidosos. O padrão Hollywood parece, portanto, ser a marca do cinema
americano, certo? Errado! O cinema americano é muito mais do que Hollywood e
muitos dos cineastas que fizeram a fama de Hollywood começaram como
independentes, longe dos grandes estúdios. Só para citar alguns exemplos,
podemos lembrar Francis Ford Coppola (Dementia 13 – 1963), Martin Scorsese
(Quem Bate à Minha Porta? – 1968, Caminhos perigosos – 1973), Joel e Ethan Coen
(Gosto de sangue – 1984), Steven Soderbergh (Sexo, mentiras e videotape –
1989), só para ficar em alguns que ganharam Oscars ou Palma de Ouro em Cannes e
começaram independentes levando, posteriormente, seu estilo autoral para os
grandes estúdios. Mas o cinema independente, embora experiências esparsas
tenham ocorrido antes, tem início mesmo há mais de cinquenta anos quando John
Cassavetes filma Shadows (1959); o filme “Sombras” foi rodado com uma estrutura
formal que segue as leis da improvisação do jazz, sem argumento nem
protagonistas bem definidos e com um mínimo de orçamento. É, no entanto, um
belíssimo filme que mostra para quem não esta acostumado, que cinema é uma arte
que se propõe a contar bem uma estória ou, simplesmente, mostrar o cinema como
uma experiência estética única. Como disse John Cassavetes certa vez em uma
entrevista, "Quando comecei a fazer filmes, queria fazer cinema como Frank
Capra. Mas nunca fui capaz de fazer outra coisa que não fossem estas obras
loucas e árduas. No final, uma pessoa é o que é". O cinema independente é
isto, ele constitui a essência do cinema de autor, parte sempre da visão de
mundo particular de um realizador, por isso mesmo é muito pouco comercial, mas
representa também a ousadia tão necessária para a expressão do que se pode
denominar arte. Essa ousadia e autonomia, poucos diretores hollywoodianos tem.
Os que conseguem ter são justamente aqueles que vieram do meio independente
como os acima citados e outros como Terrence Malick (A Árvore da Vida – 2011)
que se tornou um mito e cujos papeis em seus filmes são disputados a tapa por
atores famosos; para conferir, veja a tropa de atores famosos que participa de
seu filme Além da Linha Vermelha (1998). Outro diretor famoso pela
independência e ousadia, que foi renegado pelos grandes estúdios no passado e
hoje é aclamado em Hollywood é David Lynch que é conhecido por seus filmes
surreais, extremamente difíceis – o famoso estilo "Lynchiano" –, onde
sonho e realidade formam um caleidoscópio que muitas vezes perturba e ofende os
menos avisados. Seu primeiro filme, Eraserhead (1977), tornou-se um clássico
Cult.
Enfim, para quem quer conhecer mais sobre este universo
extremamente criativo que continua produzindo talentos surpreendentes, deixo
uma lista de diretores e filmes independentes, além dos já citados, que, de
maneira geral, são relativamente fáceis de encontrar em boas locadoras ou na
internet e são imprescindíveis para quem quer ser um cinéfilo de verdade.
Jim Jarmusch, ótimo diretor, tem muitos trabalhos
premiados (Estranhos no Paraíso – 1884).
Hal Hartley, um dos mais intimistas diretores
independentes (Confiança – 1990).
Gus Van Sant, cineasta muito influenciado pelo cinema
experimental, seu primeiro filme Mala Noche (1985) foi aclamado pelo Los Angeles Film Critics Association
como o melhor filme independente do ano. Posteriormente filmou grandes sucessos
como Drugstore Cowboy (1989) e Gênio Indomável (1997).
Todd Solondz, diretor genial que retrata em seus filmes a
decadência do "american dream". Indico três filmes: Felicidade
(1998); Bem vindo à casa de bonecas (1995); Histórias Proibidas (2001).
Thomas McCarthy, ator que, ao passar para a direção,
representa a novíssima geração do cinema independente. Filmes: O visitante (2007);
O Agente da Estação (2003).
Jonathan Dayton
& Valerie Faris, diretores de clipes e comerciais que dirigiram o simpático
Little Miss Sunshine (2006).
Quentin Tarantino,
diretor que dispensa apresentação e que começou sua carreira como roteirista para,
em seguida, passar a dirigir. Seu primeiro filme, Cães de Aluguel
(1992), foi apoiado pelo ícone do
cinema independente, Monte Hellman – falarei dele no final – e se tornou
um Cult da cena independente.
Alexander Payne,
bom diretor seus filmes costumam retratar dramas de pessoas comuns com humor às
vezes negro; Sideways - Entre umas e outras (2004).
A lista de bons diretores à margem de Hollywwod seria
extensa, mas como pretendo apenas instigar a curiosidade sobre esta outra
faceta do cinema americano, deixei para o final o que considero um dos melhores
diretores não apenas do circuito independente, mas da história do cinema. Estou
falando de Monte Hellman, com 80 anos e ainda na ativa – seu último longa Road
to Nowhere (2010) foi lançado no ano passado, depois de vinte anos afastado do
cinema – Hellman é um dos mais criativos diretores da história do cinema. Com
uma obra admirável e cultuada pela crítica e por muitos diretores, Hellman
transitou pelo Western na década de 60 e pelo Road-move na década de 70 sempre
com a proposta de uma reflexão existencial profunda que, nem sempre, é
compreendida pelo público. Seus filmes não obtiveram sucesso quando lançados,
mas com o passar dos anos foram ganhando status de Cult e elevaram seu nome ao
nível dos melhores diretores do mundo. Indico Two-Lane Blacktop (1971), um
aparente filme sobre corrida de carros, mas que se torna uma experiência
devastadora, introspectiva e hipnotizante, algo como um mergulho tanto no
interior americano, como no interior de cada personagem e que culmina com um
final surpreendente até para um filme independente.
Bem, é isso! Espero que este artigo contribua para
estimular a curiosidade de quem gosta de cinema para buscar novos horizontes,
experimentar novas possibilidades estéticas que somente o cinema pode
proporcionar.
João Antônio Ferrer Guimarães
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